BRASÍLIA - O presidente da Comissão para Serviço de Caridade, Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Aldo Pagotto, fez duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira, e disse que o Bolsa-Família "é um programa que vicia". Ele afirma que não são exigidas contrapartidas das famílias. "São várias famílias que se contentam com o mínimo", completou.
Para Pagotto, é essencial que, além do programa de assistência, seja ofertado para famílias beneficiadas cursos e atividades que favoreçam o ingresso no mercado de trabalho. "É preciso que se dê para adolescentes oportunidades de estudo não só acadêmico, mas também profissionalizante."
Além de não garantir a independência das famílias, o programa tem um caráter individual, que também reforça a tendência de acomodação. "Não estamos vendo o povo se juntar, se organizar." O mesmo processo, afirma, ocorre também com assentamentos de sem-terra. "São verdadeiras favelizações rurais. Sem condições de crédito, sem auxílio técnico, o povo vai desistindo de plantar. Não é uma crítica cáustica. Mas esses programas tem de ser urgentemente otimizados."
Porém, o presidente da Caritas, D. Demétrio Valentini, saiu em defesa do programa de assistência. "O governo se sente autorizado pela votação que teve e aprimorar os programas sociais", afirmou.
Recado de Majella, CNBB
Do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Geraldo Majella, ontem:
- Acho duro quando ouço que em troca de apoio se oferece emprego, ministérios. Acho muito duvidoso. Os partidos deviam ter a coragem, o desprendimento e não querer participar [do governo] como se estivesse dividindo o preço [da eleição de Lula]. [A composição do novo governo] deve ser um trabalho de grande desprendimento para se construir um Brasil maior e melhor.
Os alicerces
Foi em um dos debates da recente campanha eleitoral que o candidato petista, depois reeleito, declarou que os quatro primeiros anos de seu governo teriam sido dedicados à construção de alicerces sólidos, para poder erguer, sobre essa base, construída com paciência e cuidado, o edifício que seria a redenção do Brasil. Para isso ele precisava de um segundo mandato. Seus milhões de eleitores lhe deram essa chance.
Mas parece que o terreno onde ele fundamentou os tais alicerces estava tomado por um dos maiores inimigos do homem, o cupim. Ao contrário do que reza a música cantada em muitos palanques pelo provecto escritor Ariano Suassuna, não há madeira que cupim não roa.
O trecho acima é do artigo semanal de
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa.
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"Durante o pleito de 2006, sempre questionei a existência dessa "máfia do cupim". Pelo visto ratos e cupins agora dividem o mesmo pedaço da madeira." por Pedralli
O que faz um encontro com Lula
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PFL), encontrou-se hoje com Lula no Palácio do Planalto e sofreu uma leve amnésia.
Na convenção do PFL, em junho deste ano, quando José Jorge (PFL-PE) foi confirmado vice na chapa de Alckmin, Arruda disse, em referência a Lula, que não se sentiria seguro de entrar num avião em que o piloto bebesse:
- Não estamos aqui para escolher uma pessoa engraçada que faça metáforas futebolísticas e divida um copo de cerveja. O Brasil é um avião. E não gostaria de encontrar nesse avião, chamado Brasil, um companheiro de boteco-, disse à época.
Hoje, isso sumiu da memória de Arruda:
- Não me lembro disso.
O orçamento do Distrito Federal depende dos repasses de recursos do orçamento da União. Por isso, é compreensível o discurso diplomático de Arruda:
- Eu sou um homem de diálogo.
A vitória de Lula e o segundo mandato
Do economista Gilberto Dupas em O Estado de S.Paulo, hoje:
"Para além das profundas raízes populares e da marcante personalidade política de Lula, são fáceis de entender as razões do seu segundo mandato: o desempenho social e econômico do seu governo, ainda que se beneficiando de um momento internacional muito favorável, superou com folga o do período FHC. O desemprego caiu, a informalidade reduziu-se, o salário mínimo teve importante evolução, a renda real média recuperou-se e houve sensível redução da pobreza com incorporação de 6 milhões de pessoas das classes D e E à classe C. As exportações dobraram, gerando notável recuperação do saldo comercial e zerando a dívida líquida externa.
O programa Bolsa-Família, com gestão eficiente e pouca contaminação do varejo político, conseguiu atingir mais de 11 milhões de famílias e se constituir, juntamente com a ampliação da aposentadoria, numa importante ajuda para as classes baixas. Finalmente, o crescimento econômico, se foi pequeno em função das possibilidades que o momento internacional permitia, conseguiu ser um pouco superior à média do governo anterior.
Nenhuma surpresa, pois, com a conquista de Lula, especialmente quando exposto a um adversário muito aplicado, mas com pouco carisma e sem claras propostas alternativas. Com a guinada ao centro a partir da Carta aos Brasileiros - que permitiu um pacto de governabilidade com parte significativa das elites em torno da ortodoxia monetária e fiscal - e com volumes e preços dos produtos básicos em forte alta pelo crescimento excepcional da China, Lula construiu um caminho conservador na economia e criativo na retórica. Sua política externa soube aproveitar a radicalização do quadro internacional, permitindo espaços para uma ação mais agressiva sem prejudicar as relações com o governo norte-americano, que vê Lula como um moderado de esquerda em meio a “radicais” como Hugo Chávez, Evo Morales ou um Néstor Kirchner desafiador do FMI, com sua bem-sucedida moratória."
"Esses políticos me divertem cada vez mais!"